quinta-feira, 12 de setembro de 2013

adenda

ora uma vez que, como seria de se esperar, há por aí quem tenha esta extraordinária capacidade de ler o que não está lá escrito com os habituais requintes de malvadez, seguem então explicações, ou tentativas, adicionais ao que aqui foi dito ontem [ou por outra, segue então mais um colinho para quem está triste, muito zangado e a precisar de uma atenção extra], sim? "à lá ber atão" se à segunda nos entendemos melhor.

Em primeiro lugar, expliquem-me lá como se eu fosse mesmo muito quadrada, onde e como é que se consegue depreender que existe no post algum tipo de ofensa à CP ou à Carris, seus colaboradores ou utilizadores? Eu ou sou muito pouco esperta, ou então não tenho habilidade para distorcer a coisa a meu favor... Bom, esclarecendo, quando falo nos passageiros da CP ou da Carris quero falar no sentido figurativo, que como expliquei por escrito e extenso, refiro-me no fundo aos que não andam de avião. E isto, quer se queira quer não, é um facto. As pessoas que mais se insurgem nesta frente de batalha são, de um modo geral, as que não utilizam o serviço ou têm uma utilização muito pontual. Falo do trabalhador comum, da maioria das pessoas, tal como eu própria, antes de fazer o que faço. Definindo ainda melhor, as pessoas que no máximo usam o transporte aereo para férias sazonais. Até aqui, acompanhamos? Assim espero. Ora, pegando no universo populacional da nossa praia à beira mar plantada, esta camada é a esmagadora maioria. E isto não tem nada de depreciativo, vamos lá a recolher as garras e enfrentar o boi pelos cornos. As coisas são assim, e pronto. E o grande desencadeador desse choque anafilático que os tripulantes provocam às pessoas prende-se com um fator apenas, de seu nome "necessidade". As pessoas que mais falam do avião, são aquelas que não precisam dele para porra nenhuma. São as que são afectadas pela greve dos maquinistas da CP ou da Carris. E isso sim é chato com'ó raio que os parta! Porque uma pessoa fica logo tramada para ir trabalhar, e empata tudo, e o trânsito fica que não se pode e 30 por uma linha. Tudo verdade e nada a apontar. Mas ninguém quer que aquilo feche! Querem é chegar à greve e vá, vamos a despachar isto que eu quero é a coisa a funcionar. Agora, falar de uma realidade desconhecida não é muito sensato, convenhamos. E em especial quando se trata de cobiçar a vida alheia, que coisa feia senhores! E, ugly truth, no fundo tudo se resume a números.

Falando curto e grosso como só eu, o que realmente desencadeia a urticária é o dinheiro. Pois então, dizem os meus estimados leitores que eu ganho muito. E isso é uma gaita. mereço, na melhor da hipóteses a forca. Ou ser largada nas trincheiras. Ou no mínimo uma carrada de piolhos e sarna para me coçar. Onde é que já se viu andar para aí gente que ganha bem... Então e o que é que eu devo fazer? Vou apresentar a minha demissão, e junto-me a vós, e choramos todos juntos e formamos uma espécie de seita que acredita que o futuro é correr esta gente toda a tostões e defender a implementação dos valores mercantis e de troca de bens da idade média? É a vossa solução? Está mal senhores. Esta errado. Vá, vamos lá passar outra vez pela casa de partida sem receber 20 euros, para castigo. E lá vou eu, mais uma vez, tentar por a coisa pelo lado figurativo: o nosso conhecido Cristiano Ronaldo passa por nós montado num grandessimo Ferrari vermelho, duas bufadeiras, jante panoramica de 16 por 9, enfim. E nós, cujo único pertence que temos que inclua a designacao 'Ferrari' é o verniz vermelho das unhas olhamos para ele dizemos "Epah, que máquina. Um dia ainda vou ter um carrão daqueles!". Mentira. Porca e descarada. Porque o que o tuga vai dizer é isto: "Cabrão! Havias de bater já com os cornos aí à frente! Só por causa das tosses e para não teres a mania...!". E é esta a nossa realidade. Gostamos é do Messi, que ele é que presta, porque não é português. E se ele passear a famelga toda reagimos com um "ai meu rico menino, que é tão amigo de ajudar os dele!", mas o Cristiano já é um atrasado mental que sustenta as gordas todas da mãe e das irmãs. Epá, mas o que é que isto nos interfere com o íntimo? A mim interessa-me que ele é bom. Aliás, ele não é só bom, é o melhor naquilo que faz. E é pago para isso, faz o que lhe compete, ponto. Mas porque carga d'água vou eu andar aí a discutir isso? Sou eu que lhe pago? Alguém me tira a mim para dar a ele? Alguém me atira para a lama com o que ele gasta ou a vida que leva? Não. Pois deixem-no viver a vida que ele quer, como ele escolheu, que ninguém tem nada que meter o bedelho. Opiniões todos temos, mas ninguém leva a sério a malta do 'Sim porque sim! E eu sou assim e 'mai nada!". Desta mesma forma, não entendo em que altura se quebrou o sigilo bancário para toda a gente opinar sobre a remuneração dos tripulantes. E com os tripulantes a coisa dá-se pelos mesmos moldes: recebem em conformidade com o que dão em troca, e ninguém vai ao bolso de ninguém para me pagar a tempo e horas. Quem me paga é a empresa, e é ela quem tem autoridade para determinar os valores. E depois, será possível que ainda se viva submerso nessa utópica riqueza dos tripulantes? Em primeiro lugar porque, meus caros, o tempo das vacas gordas já se acabou há muito. Já ninguém lá vai fazer o Funchal da manhã e depois dali a uma semana vai até um destino paradisíaco passar uma semanita. Convenhamos, hoje tripulações de bordo são para queimar as horas todas que a lei permite e levar com 3 aterragens por dia no bucho, e não digam que vão daqui! Mas foi para isto que me contrataram, por isso não há que reclamar. As coisas são simples assim: as empresas existem para dar lucro, não para fazer jeitinhos, e os recursos adaptam-se, rentabilizam-se. Mas calma com a tropa, que para tudo existem limites. E esses limitem existem para serem cumpridos. Não posso falar por outras realidades, mas a minha é esta. Até porque se o meu limitativo corpo humano o permitisse, talvez mais voasse, já que, espantem-se, a malta recebe pelo que faz, logo, quem faz pouco, recebe pouco. E falo mais uma vez da minha realidade! Não vá uma alma levantar-se e vir 'então mas quer dizer que eu não faço nenhum é?!" Não, o que eu quero com isto dizer é que se trabalha para o que se ganha! Não é suposto ser assim? E para quem vive nessa ilusão que o nosso recibo de vencimento é faraónico pode sempre passar cá em casa para confirmar que não me banho em leite de cabra. Isto serve para chegar a uma ideia muito clara que eu pensei que estivesse nos alicerces do primeiro post: o maior problema está na cabeça das pessoas. Na fraca ambição, no comodismo, no ser 'poucachinho'. Haverá obviamente quem utilize a cabeça e consiga lá chegar sozinho, outros conseguirão entender porque sabem que o caminho para o conhecimento é a informação, e não têm uma rolha chamada 'orgulho' que lhe trava a entrada. Então mas não seria mais normal eu procurar ser plena, fazer o que gosto, trabalhar com satisfação e querer um futuro melhor? Eu acho que sim. Mas eu devo ser uma pessoa muito estranha. Porque eu escolhi a profissão que tenho, tive sorte, porque eu também tenho formação superior e escolhi não me fazer valer dela, e provavelmente também não estaria numa situação confortável. Mas lutei para chegar aqui, não me lamuriei à espera que alguém me atendesse preces. E agradeço todos os dias por pertencer a uma empresa sólida, por ter mais do que um trabalho, ter um emprego que me satisfaz, por ter conseguido aliar isso à estabilidade que me proporciona, por saber que sou pelo que faço e faço por fazê-lo bem! Fiz-me ao caminho. E com os 6000 que no meu concurso (note-se que abrem vários) tentaram a sorte, eu a julgar que tinha mérito de ter conseguido, afinal aquilo até é coisa pouca. E eu que me enchia de orgulho... Realmente eu é que estou mal. Devíamos todos viver um Estado Novo que isso é que era uma rica ideia. Agora ganhar dinheiro e autonomia, isso é que era bom. Ser bem pago? Ai antes Deus nosso senhor nos levasse! A sério? Vá lá... Vamos lá deixar os falsos moralismos e procurar ter a vida que tanto invejamos nos outros. E todos conhecemos o mundo lá fora: é duro senhores. E por isso mesmo, todos devíamos ambicionar uma vida melhor, uma vida merecida. Mas o primeiro passo é nosso, é saber dedicar tempo e energia a combater o inimigo e não o cobiçado. De tudo o que eu escrevi, expectável seria que o sr. Arnaut se chateasse, afinal foi o único que eu enxovalhei. Mas não, o sr. Arnaut que fez parte dessa cambada que nos cagou o pé de merda até ao joelho não se sabe quem é. Nem interessa, que o essencial a reter é que os tripulantes ganham muito, ainda que o nome deles não conte na lista dos mais bem afortunados, ao lado do sr. Arnaut. E posto isto, só tenho a lamentar.

E em relação à formação que tantos desvalorizam, não foi ideia de alguém pegar numa molhada de malta com tiques de vedeta, pintar-lhes a beiça de batom, vestir-lhes uma farda e configurá-los para serem chiques. Não foi bem assim. Podendo não parecer, anda por aí gente muito inteligente. E na aviação há mesmo muita gente. Aliás, com diferentes competências, todas as partes são vitais à sobrevivência da companhia. As senhoras do bar, as senhoras da limpeza, os seguranças, os colegas de terra, o catering, o senhor que aperta o parafuso da escada, todos, sem exceção são parte integrante da empresa e não há ninguém que os menospreze ou substitua. E todos eles têm uma formação especial para poder fazer o que quer que seja do lado do ar. Sabiam? Se calhar não. Se calhar ninguém faz ideia que as senhoras que todos os dias madrugam como nós para deixar o avião limpo e confortável, também são instruídas e alertadas com mínimos de horas para poderem estar ali. Essa mania da segurança afinal toca a todos no nosso universo das latas que voam. De igual relevância são os senhores que fazem manuais e estabelecem normas, os que fizeram lá as contas do três vezes sete vinte e um, nove fora dá 50 passageiros por cada tripulante. Isto não é o da Joana. Isto é sério. Tão sério como eu saber que há portas por onde consigo tirar mais gente do que outras. Só por exemplo. Esta gente também é paga, tem um ordenado, e se for superior ao meu, é porque tem que ser. E eu se quiser, invisto para me tornar num deles. Simples. Não me sento à porta deles a cagar postas de pescada 'ah e tal esta gente devia era ser presa por ganhar o que ganha'. Não.

Respondendo à caríssima Mafalda, que olhando para a situação do sr. Arnaut se foi lembrar das situações de gravidez das assistentes, digamos que não é um beneficio ou uma regalia como acredito que gratuitamente lhe pareça. Que olhando para a situação por esse prisma parece que as assistentes engravidam para meter férias. Calma. Sabe que as tripulantes, por diversos factores, incorrem numa gravidez de riscos específicos certo? Isto é a definição de serviços de saúde e da segurança social, também não é mais um devaneio nosso, tipo as manias de segurança. De facto é uma obrigatoriedade cessar funções, não é por ser justo ou não, é uma limitação médica. Sabe que para um bebé em formação, fazer 3 aterragens ao dia é capaz de não ser bom. E das duas uma, ou sugere que nos seja vedado o direito à maternidade, e torço para que não lhe passe pela cabeça, já que me parece bem informada, ou sugere que me despeçam pelo mesmo motivo, igualmente escandaloso. E isto sim seria escandaloso. Seria, hipoteticamente. Mas assim a minha empresa também não seria uma das melhores para se trabalhar. Mas como eu já deixei claro, a TAP é uma empresa séria, que me oferece as condições e protecções que eu preciso numa situação como estas. É limitativo, e caso não saiba [dúvido, que ou muito me engano ou faz parte deste nosso mundo de aviões, a julgar pelo conhecimento de causa] em outros tempos houve quem efectivamente contribuísse activamente para a empresa mas em terra, em situações de gravidez. Hoje as dimensões corporativas são outras, serão o triplo, ou o quádruplo das pessoas, dos aviões, do volume de negócios. E se consultar o diagrama do grupo, facilmente percebe que as funções de terra e de ar são partes da empresa distintas entre si, e eu acredito que seja por isso que hoje não seja tão fácil e simples essa mobilidade dentro das diferentes funções. E admito, que eu não sei fazer o que fazem os colegas em terra, assim como eles não estarão certificados para fazer o que eu faço. E mais uma vez, lá está a importância da formação e do investimento que a empresa têm com todos e com cada um. Mas em todo o caso, ressalvo que falo a titulo individual, que é para isso que este espaço serve, para os meus. Mas se tem alguma sugestão ou reclamação, deverá fazer junto de quem de direito, obterá com certeza uma resposta sólida e concisa, que espero, amenize esse seu desconforto face à promoção do bem estar e preservação da saúde e segurança dos nossos filhos...

Se somos assim tão dispensáveis, porque não deixar só um piloto lá na frente a conduzir a carreira? É uma ideia. se calhar acabavam-se as manias de grandeza e de segurança e troca o passo. O que também acabava era essa historia do avião ser o meio de transporte mais seguro do mundo, o que é que acham? Vocês não sei, eu era menina para nunca mais levantar os pés do chão, que mal por mal do comboio sempre dá para fugir e o INEM chega lá num pulinho...


Uffa! Dúvidas? ;)

Jú*

1 comentário:

Anónimo disse...

Minha nossa,

que coragem. Mesmo assim não sei, não....

olha, eu, que pago IRS todos os anos, porque a corja que me governa (e pelos vistos não só!) acha que ganho muito dinheiro, sugiro que nos juntemos todos para um chicoteamento coletivo....uma forma de castigarmo-nos a nós próprios só porque há injustiças no mundo e muito boa gente ganha menos e troca o passo.....

ó senhores...

Prepara-te porque ainda pode haver alguém que não tenha percebido...ou não concorde, vá!!

Cpts, Tânia