terça-feira, 2 de outubro de 2012

não sei se será do Outono


mas com os primeiros ventos frescos chegam [ainda] com mais força as minhas saudades do Porto. O que lá me levava por vezes sem conta está mais perto de mim, mas o apreço pela cidade não se desvaneceu. Nada se perdeu, pelo contrário, cresce uma paixão nostálgica pelo cenário que serviu de palco à minha História de vida. À nossa vida. Não haverá forma mais pura de se poder dizer que "aqui já fui feliz". Trago comigo o amor que lá encontrei, e  os cheiros, as gentes, as ruas, os sabores, as memórias que lá vivi. E hoje sinto saudade. Saudade de sair de casa, cruzar a esquina da Alegria e começar a sentir o cheiro das castanhas que assam entre a Fernandes Tomás e a Santa Catarina. De ver um mar de gente que palmilha a calçada e dá movimento à baixa, que me parecia ir encolhendo de tantas vezes que por ali passei que a fui decorando. Mais do que feliz, aqui senti-me em casa. Aqui a hospitalidade não conhece limites, é exponenciada. Aqui podemos pedir ajudas, conselhos e receber elogios de quem por nós passa, com a genuinidade que só as pessoas do Porto têm. E sabe bem. Faz-nos sentir parte. De quando em vez lembro-me dos cafés, dos restaurantes, dos bares por onde passámos e as [boas] conversas que por lá tivemos. Lembro-me do que comer e onde, do que fazer nos dias de frio ou nas tardes quentes, onde procurar o que preciso. Ganhei vícios nesta cidade. De coisas, rotinas que me fazem sentir nostálgica. Hoje a saudade faz-me querer voltar lá. almoçar aqui, jantar ali, rever amigos, respirar o Douro. Haverá por aí quem se queixe da escuridão da Invicta, que para mim é paisagem. A cores de Outono que trazem a noite mais cedo deixam a cidade ainda mais aprazível, para passeios de casaco ou esplanadas aquecidas. Para lanches tardios e jantares mais demorados. O cheiro que sentia ao dobrar a esquina espalha-se por toda a rua e as cores da estação deixam a cidade morna. Aqui será sempre assim. Aqui será sempre uma morada. A minha, a nossa. Ainda que não seja a primeira, não haverá lugar para outra qualquer segunda. Se houvesse um qualquer ponto no mapa onde escolhesse imortalizar os grandes momentos da minha vida, seria aqui, na Invicta. Foram tantas as viagens para lá chegar, e no regresso, a vontade de ficar. Hoje posso dizer que, para cada ida, houve um voltar, mas de todas as vezes que de lá voltei, voltei mais rica. Em sentidos, experiências, sentimentos. De lá já trouxe um grande amor. Trouxe-o a ele, a nossa família a dois. E da ultima vez, trouxe na minha barriga a nossa filha.. Coincidência? Talvez não. Prefiro continuar a viver por acreditar que tudo na vida acontece por um motivo. E por tudo isto o meu amor de perdição pelo Porto não pode ser acaso. As saudades que hoje batem fazem-me esperar voltar lá em breve, levar lá a minha filha, se possível ainda na barriga e depois fora dela, para que volte ao primeiro sitio que a conheceu. Para respire a História de que ela, agora, também faz parte. E por acreditar que ali ela vai ser feliz. Tão feliz quando eu sou cada vez que por lá me encontro.

Ju*

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